Dia da Mulher: a participação feminina nas entidades e no mercado de trabalho – CAU/SP

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Dia da Mulher: a participação feminina nas entidades e no mercado de trabalho

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08.03.2018

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Redação CAU/SP

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Dia da Mulher: a participação feminina nas entidades e no mercado de trabalho

Uma importante luta das mulheres em todo o mundo, a representação feminina nas instâncias de poder também é matéria de debate no campo da Arquitetura e Urbanismo.

Para fomentar a discussão, o CAU/SP ouviu arquitetas e urbanistas que ocuparam e ocupam posições de destaque em algumas das entidades mais representativas da categoria.

Os depoimentos estão reproduzidos abaixo. 

Miriam Addor, primeira mulher presidente nacional da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) em 2015

Desde sempre sentimos uma certa “reserva de mercado masculina” na profissão de Arquitetura. No entanto, observa-se nas mais diversas formas de atuação de uma arquiteta no mercado de trabalho, a marca cada vez maior de sua presença, considerando que somos 62% do total de arquitetos no Brasil.

Mulheres “multitask” arquitetas, proprietárias ou sócias de escritórios de Arquitetura, que trabalham em obras, no poder público, são professoras, trabalham no setor de vendas e especificações, são autônomas que, além do trabalho técnico, têm a responsabilidade de fazer a gestão de suas casas, famílias e por fim ainda estarem bem apresentadas para reuniões com clientes e aparições públicas.

Muitas delas ainda representam entidades de Arquitetura e Urbanismo e o nosso Conselho, trabalhando de forma voluntária e doando o seu precioso tempo em prol do coletivo. A elas, nossos parabéns e que continuem na luta!

 

 

Nina Vaisman, presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP)

Nós ainda vivemos num mundo muito machista. Com todo o respeito aos meus colegas homens, que sempre foram maravilhosos comigo, mas o mundo da Arquitetura e Urbanismo ainda reproduz um padrão mundial.

Na presidência de países, das grandes empresas, a maioria é sempre de homens. E as entidades de Arquitetura e Urbanismo, de Paisagismo, reproduzem esse padrão. Verdade seja dita, a ABAP foi fundada por uma mulher, a Rosa Kliass, e teve várias arquitetas na presidência, a exemplo da Lúcia Porto, da Ciça Gorski e tantas outras.

E no mercado de trabalho, eu tenho visto cada vez mais concursos públicos vencidos por escritórios de Arquitetura liderados por mulheres. Por exemplo, o concurso para a sede do IAB-DF e tantos outros.

A Arquitetura não é uma profissão ‘feminina’. É uma profissão que tem um grande número de mulheres, assim como a Medicina, e mesmo na Engenharia tem crescido o número de mulheres. E a próxima etapa será que cada vez mais mulheres vão assumir cargos na presidência, com o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho.

Eu tenho sempre insistido, e pedido às colegas arquitetas e urbanistas que se candidatem aos cargos políticos, que apareçam. Na medida em que a nossa sociedade fique cada vez mais inclusiva, a nossa visibilidade será ainda maior.

 

Rosana Ferrari, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo (IAB-SP) entre 2008 e 2011

A mulher, por muito tempo, tem deixado de se colocar, de se posicionar e dizer: ‘eu quero, eu estou disponível para assumir esse cargo’.

Em São Paulo, apesar de estarmos em um Estado vanguardista, o mundo da Arquitetura e Urbanismo tem sido machista conosco. E isso se passa em outros setores da sociedade e não somente na Arquitetura e Urbanismo. A Luiza Trajano do Grupo ‘Mulheres do Brasil’, tem uma pesquisa que mostra que, das empresas familiares, somente 4% destas tem uma mulher na presidência do Conselho, sendo que nas empresas em geral, apenas  2%  tem mulheres neste posto. É muito baixo.

Eu sempre fui contra cotas para qualquer coisa. Eu pensava: ‘nós temos que conquistar as posições, os cargos pelos nossos próprios méritos’. Só que nós, mulheres, se tivermos que conquistar as coisas pelos nossos próprios méritos, vamos demorar séculos.

Quando eu assumi o cargo no IAB [Departamento de São Paulo], eu senti isso na pele. Eu assumi porque o Professor [Joaquim] Guedes [presidente do IAB-SP em 2008] saiu. Ele iria concorrer à vereança em São Paulo, quando, antes mesmo de se afastar da Presidência do IAB, sofreu um acidente e morreu atropelado  (…) Depois eu consegui uma segunda gestão com a ajuda do voto do interior. Mas eu somente consegui isso porque eu tive a oportunidade de fazer uma primeira gestão.

A cota é uma oportunidade. É uma oportunidade da pessoa se colocar, e hoje eu considero isso muito importante. Eu mudei minha opinião: tem que ter cotas para mulheres sim, seja nas instituições, nos partidos políticos[para candidatas mulheres] ou nas empresas. E os partidos têm que ser fiscalizados, porque muitas vezes utilizam as candidatas para cumprir a cota e não porque efetivamente querem a mulher discutindo e participando!

A Zaha Hadid [arquiteta iraquiana-britânica premiada com o Pritzker], quando dava aulas, percebia uma coisa: as mulheres eram as melhores entre os alunos. O desempenho delas era sempre superior. Mas no mercado de trabalho, ela se perguntava: ‘cadê aquelas alunas que se destacavam na sala de aula?’

Sinceramente, eu não tenho uma resposta pronta para essa questão.

As duas grandes questões são o quanto temos que disputar esse mercado de trabalho e o quanto nós mulheres queremos ganhar posições de destaque na profissão, mesmo que a nossa participação seja impulsionada por cotas previstas em lei, refletindo ainda sobre os meios de participação para que a legislação seja cumprida de forma justa e igualitária.

 

Imagem: Divulgação/FASA.

 Valeska Peres Pinto, presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) entre 1989 e 1995; presidente do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo entre 1998 e 2006

Nos últimos seis anos, as entidades de Arquitetura e Urbanismo, como a Federação e o Sindicato, tornaram estatutária a representação paritária dos gêneros nas diretorias. Assim, se o presidente da vez é um ‘menino’, a vice tem que ser de uma ‘menina’ e vice-versa.

Essas entidades com representação paritária são muito importantes, até mesmo porque o contingente feminino na nossa profissão cresceu muito, e haveria o risco de que os homens fiquem em minoria absoluta [nas entidades].

Em qualquer luta que as mulheres enfrentam, há sempre 2 pilares. O primeiro pilar é o da igualdade: trata-se de lutar pela igualdade naquilo que nós temos iguais aos homens. Nas faculdades, não tem um diploma para os homens e outro para as mulheres. São os mesmos. É a luta pelos salários iguais nos mesmos cargos e tantas outras.

E tem o segundo pilar, que é o pilar da singularidade. As mulheres têm uma pauta que é própria delas: a dupla jornada; a saúde e a reprodução, a família. Em alguns casos, essa singularidade pode afastar a mulher do mercado de trabalho. A depender das formas como tratamos essas singularidades, elas podem conspirar contra nós.

O nosso lugar na Arquitetura é exatamente o mesmo lugar dos homens. Não podemos reduzir a Arquitetura ao estereótipo daquilo que as mulheres podem fazer.

Publicado em 08/03/2018
Da Redação

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08.03.2018

Escrito por:

Redação CAU/SP

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