Encontro promove reflexão sobre patrimônio e papel dos arquitetos – CAU/SP

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Encontro promove reflexão sobre patrimônio e papel dos arquitetos

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08.09.2022

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Redação CAU/SP

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Encontro promove reflexão sobre patrimônio e papel dos arquitetos


 Marco arquitetônico da capital, a Biblioteca Mário de Andrade sediou no dia 23/08 uma jornada de reflexão sobre a conservação do patrimônio cultural do estado e a importância dos arquitetos e urbanistas para esta tarefa.

Para tanto, o CAU/SP convidou especialistas de instituições nacionais e internacionais, e do setor público e privado, para o debate sobre acervos e arquivos, o legado da UNESCO e da Semana de Arte Moderna (1922), e a participação dos profissionais nos órgãos governamentais de preservação.

Na abertura do “II Encontro sobre Patrimônio Cultural, Arquitetura e Urbanismo do CAU/SP”, a presidente do CAU/BR, Nadia Somekh, citou as recomendações da Carta de Ouro Preto, entre as quais, mitigar os efeitos das mudanças climáticas no território sobre o patrimônio; estruturar um sistema nacional de preservação – “o que nós temos defendido há anos”, pontuou –; e incluir os acervos e trabalhos documentais dos profissionais como bens a preservar.

A presidente do CAU/SP, Catherine Otondo, abordou as possibilidades de ação do Conselho paulista na área. “Nós não temos nenhuma cadeira nos órgãos de preservação de São Paulo (…), mas nós podemos, mesmo sem ter essa cadeira, criar modos de trabalhar conjuntamente. Temos nos aproximado da Secretaria de Cultura para ver quais são os bens tombados e verificar qual ação seria possível (…) nós podemos também, dentro do CAU, fazer proposições de políticas públicas”, pontuou.

Nesta gestão, o CAU/SP atua para ter representantes dos conselhos municipais de preservação do patrimônio, e atualmente conta com assentos em dez órgãos.

O legado da Convenção da UNESCO

Leonardo Castriota, Vice-Presidente do ICOMOS Internacional (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, ONG ligada às Nações Unidas), discutiu as transformações do conceito de preservação do patrimônio desde a Campanha da Nubia (1960) para a defesa do legado arquitetônico egípcio, e que teve impacto mundial.

Castriota ponderou que, muito gradualmente, houve a incorporação de perspectivas não-europeias das práticas de conservação, incluindo contribuições asiáticas e latino-americanas.

A preservação da arquitetura moderna em São Paulo

Considerada por muitos um ícone da arquitetura moderna brasileira, a Casa de Vidro foi o primeiro projeto construído da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), no bairro paulistano do Morumbi, e hoje guarda o acervo do casal Pietro e Lina Bardi.

Renato Anelli, do Instituto Bardi, fez uma retrospectiva da criação da Casa de Vidro até a atualidade.

“É um caso raro de uma preservação de um bem, de um acervo, que foi iniciativa dos próprios proprietários — o projeto é de 49, a casa mesmo foi construída em 52,– e que entraram com o pedido de tombamento (….), visando à criação de, na época, uma fundação, e pouco depois, em 1990, foi transformada, foi criada, de fato, como um instituto”, relatou.

Por meio de teleconferência, Miguel Buzzar e Monica Junqueira, da organização não-governamental Docomomo-SP, problematizaram como a arquitetura modernista foi incorporada ao patrimônio cultural do Estado ao longo do tempo.

“Se a Arquitetura moderna, ao longo dos anos 50, adquiriu reconhecimento e hegemonia em vários setores, inclusive na esfera federal do governo (…) em outros lugares isto não ocorreu, pelo menos não de forma linear. (…) a primeira obra moderna foi construída no Estado de São Paulo, [mas] isto não garantiu uma aceitação imediata. O Modernismo não obteve o rebatimento nos cursos de arquitetos na Escola Politécnica e, mesmo anos depois, nas revistas de arquitetura”, pontuou Buzzar.

Silvio Oksman, do comitê do ICOMOS dedicado ao patrimônio do século XX, fez uma crítica à forma atual de preservação. “Se a Arquitetura moderna foi a vanguarda, a preservação da Arquitetura moderna é muito conservadora, e não permite alterações que são permitidas em outros edifícios. É preciso mudar isso para que nós possamos preservar”, ponderou.

A memória da Arquitetura e do Urbanismo

Érica Machado, da empresa Concrejato, vinculada à restauração do Museu do Ipiranga, fez uma apresentação detalhada da análise e documentação de todo o processo de restauração do bem, incluindo uso de tecnologias como fotogrametria digital, radar de penetração do solo entre outras.

Sabrina Fontenele, do IABsp (Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo), apresentou o acervo disponível do instituto, que inclui atas de concursos públicos, obras de arte, mais de 3 mil livros e uma coleção de periódicos internacionais de dezenas de países, além de um arquivo de projetos que data desde 1988.

Sylvia Ficher, da UnB, uma das profissionais pioneiras da área de preservação, recapitulou a história dos primeiros cursos e departamentos dedicados à conservação do patrimônio na segunda metade do século passado.

“Não era assunto que causasse debate mesmo no IAB ou nas nossas faculdades, isolando e desprestigiando ainda mais a ação preservacionista, e por extensão as políticas de documentação”, lembrou. (…) “Vivia-se o império da renovação urbana, da tábula rasa”.

Conselhos e órgãos públicos

Silvia Ferreira Santos Wolff (UPPH/Condephaat), Maíra de Camargo (CONDEPHAT-Tatuí/Condephaat) e Maísa Fonseca (COMDEPHAASC-São Carlos/ COMPPHARA-Araraquara) debateram a atuação de arquitetos e urbanistas em conselhos e órgãos públicos.

Apesar de terem participado dos conselhos em épocas distintas, relataram algumas reclamações em comum, a exemplo de debates esvaziados e falta de repercussão das opiniões técnicas — de arquitetos e urbanistas—no âmbito destes órgãos.

Outra questão fundamental foi a falta de condições para que os conselhos municipais de preservação exerçam adequadamente seu trabalho.

“Há necessidade fundamental de um corpo técnico que apoie as funções do Conselho. (…) mesmo que seja apenas um estagiário. (…) O Conselho é um trabalho voluntário, e você não pode exigir do conselheiro um trabalho técnico que [às vezes] ele não tem experiência para isso”, descreveu Maíra de Camargo.

Premiação e lançamento do manual de políticas municipais

Ainda no dia 23, na sede do CAU/SP no Centro Histórico, houve a cerimônia de Premiação CAU/SP Boas Práticas de Patrimônio, com as experiências bem-sucedidas de restauro e conservação do patrimônio arquitetônico, urbano e paisagístico, e de ensino e gestão do patrimônio cultural.

Também houve o coquetel de lançamento da edição física do Manual de Orientações às Políticas Municipais de Patrimônio Cultural (CPC-CAU/SP)”.

A versão digital está disponível neste link. O CAU/SP também já deu início ao processo de distribuição da versão impressa deste livro.

A obra visa a sensibilizar governos, gestores públicos e a população sobre o papel e a importância da preservação do patrimônio cultural em sua diversidade e abrangência e seu impacto socioeconômico como componente imprescindível ao desenvolvimento sustentável.

O “II Encontro sobre Patrimônio Cultural” foi uma iniciativa da Comissão Especial de Patrimônio Cultural do CAU/SP (CPC -CAU/SP).

Publicado em 08/09/2022
Da Redação

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08.09.2022

Escrito por:

Redação CAU/SP

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