A proliferação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e a formação necessária para os desafios do século 21 estiveram no centro dos debates da Mesa sobre Ensino e Formação ocorrida no segundo dia (26/11) da 2ª Conferência Estadual de Arquitetos e Urbanistas do CAU/SP, realizada na capital paulista.
Mediada pela diretora de Ensino e Formação do Conselho, Debora Frazatto, a Mesa foi constituída por Renato Anelli (Fapesp), Valter Caldana (FAU-Mackenzie) e José Roberto Geraldine Junior (CAU/BR).
A diretora do CAU/SP abriu as discussões fornecendo os números sobre o quadro universitário do Estado: trata-se de 121 cursos autorizados a funcionar; deste total, 75 devem formar graduados em Arquitetura e Urbanismo em 2015, com uma estimativa de 12.600 novos profissionais somente neste ano.
“Será que estamos formando profissionais para as demandas que o país reclama?”, questionou.
Entre a variedade de análises apresentadas no debate, ficou claro que não se trata de formar tão somente um profissional competente para obedecer às políticas públicas de Arquitetura e Urbanismo, mas também para pensá-las.
A inserção na cadeia produtiva das cidades
“Nós temos uma visão do arquiteto como aquele que responde a um estímulo, a uma demanda. Mas nós vemos cada vez mais arquitetos no Executivo em posições onde definem ou contribuem para estabelecer políticas públicas”, afirmou Renato Anelli, coordenador da área de Arquitetura e Urbanismo da Fapesp.
Ele lembrou a vasta quantidade de cidades do interior paulista ainda sem arquitetos em seu quadro de funcionários e instou os cursos a se preocuparem com novas formas de inserção dos profissionais no mercado de trabalho.
“Existe a questão da inserção dos doutores que saem dos cursos de pós-graduação e que não pode ser apenas na carreira acadêmica, têm que ter uma inserção nas cadeias produtivas das cidades”, avaliou.
O diretor da FAU-Mackenzie, Valter Caldana, reforçou a importância da atualização do ensino universitário em Arquitetura e Urbanismo.
“O fato é que nós temos escolas – e talvez por isso nos incomode o grande número – que reproduzem o ensino de Arquitetura absolutamente retrógrado, corporativo, que remonta a 300 anos, que é o ensino do pequeno estúdio, o ensino de um ateliê que não existe mais, de metodologias de projetos muitas vezes impossíveis de serem realizadas”, criticou.
Para Caldana, o desafio da categoria é “preparar os jovens do século 21 para o enfrentamento do colapso urbano”, mantendo a preocupação de “organizar a inserção desses profissionais no mercado de trabalho, garantindo as condições de segurança jurídica, de segurança institucional, para sua atuação”.
O papel do CAU
O Conselheiro federal e representante de Instituições de Ensino Superior do CAU/BR, José Roberto Geraldine Junior, fez um relato dos trabalhos já desenvolvidos pelo Conselho junto ao Ministério da Educação e demais órgãos de acompanhamento do ensino superior.
Ele indicou que o CAU/BR trabalhe para que o curso de Arquitetura e Urbanismo siga nos mesmos moldes do Direito e da Medicina.
“O CAU assinou esse convênio com o MEC e até o final de dezembro de 2015 nós teremos um resultado a apresentar. A expectativa é que a gente tenha editais para abertura de cursos de Arquitetura e Urbanismo no país nos mesmos moldes que a Medicina faz”, disse.
“Ou seja, o MEC passará a abrir editais e dizer: ‘olha, na região tal nós precisamos abrir cursos. (…) no resto, fecha. Abre quando precisar’”.
Geraldine também divulgou que o CAU prepara um sistema de acreditação dos cursos (certificação da qualidade acadêmica) semelhante aos sistemas da UIA (União Internacional dos Arquitetos) e do Mercosul (Arcosul).
“Nós temos um sistema educacional que trabalha com um o [nível] mínimo de qualidade. (…) Mas o CAU pretende trabalhar com um sistema de excelência”, disse ele.
“Nós queremos trabalhar com um sistema de acreditação elevada, para que nós possamos puxar as instituições de ensino que assim o desejarem fazê-lo”, afirmou.
Publicado em 02/12/2015
Epaminondas Neto, de São Paulo/SP